OPINIÃO DA EDITORA
Já frequentou uma seção, no Banco do Brasil, onde se reúnem centenas de pessoas idosas, cadeirantes, de maca, jovens com filhos, senhoras e senhores pacientes (ou não), você sabe o que significa precatórios. Não? Deixa que eu conto. É um tal papel, que o País assume que estar devendo, diz que vai pagar, mas não o faz. No velho estilo: “devo, não nego, pago quando quiser”. A fila é interminável. Tem senha para entrar, depois que entra, vai para a triagem. Lá tem que provar que é você. Mostrar uma cambada de documentos, alguns tão antigos que não dá mais para ler. Se conseguir convencer o funcionário, vai para as cadeiras esperar. E lasque a esperar horas a fio e, geralmente, tem que voltar no dia seguinte e assim sucessivamente, por meses, anos a fio. A fila é grande. É quando as histórias surgem. Aquele dinheiro era do avó que já morreu e avó, cadeirante, iniciando um processo de demência, precisa pagar um advogado e lá estão também as filhas. O outro, é só o bisneto, pois o bisa não tem mais condições de se levantar da cama, o ele está ali para honrar o parente que não tem dinheiro para fazer uma operação na bexiga. Estilo o filme ‘Sol da Meia-Noite’, onde os detentos caminham em círculo por horas, essa é a dança da cadeira desses brasileiros.Todos, ali na sala, com o mesmo objetivo. Quando são chamados, pela senha (lembra, lá do início, da triagem), outro funcionário, em silêncio, olha a papelada antiga, respira fundo com ar de cansado, e diz: “falta a assinatura do meio com o nome da bisavó do tio (esses pedidos complicados que banco faz). Então, se instala a gritaria, mas não adianta, tem que levantar, pois a fila, lentamente, anda. Passei um mês inteiro frequentando esse lugar. Fui por outro motivo. Receber o valor de um leilão. Foram 30 dias convivendo com aquelas tristezas. Nesse tempo, só vi uma senhora receber o seu precatório. Há anos ela ia lá, primeiro com a avó, depois com a mãe e, nesse momento, estava sozinha pois as duas, há tempos, tinham falecido. O dinheiro? Ia pagar as contas atrasadas. E é desse dinheiro, que o País deve às pessoas, que o PR e Paulo Guedes querem dar o calote, para fazer a nova bolsa-família. É do único lugar que esses dois senhores estão vendo a possibilidade de arranjar caraminguás para pagar os desempregados. Descobrir vários santos, para cobrir outros santos. Eita nós!
O QUE SÃO PRECATÓRIOS, EXATAMENTE?
Senta que lá vem história: segundo o Google, é quando uma pessoa física ou jurídica processa a União, ganha uma indenização, é emitida uma ou mais ordens de pagamento reconhecidas pela Justiça. Essas ordens são os precatórios.
AMANHÃ É DIA DE CHORAR OS NOSSOS MAIS DE 600 MIL MORTOS POR COVID-19.
ATÉ QUARTA-FEIRA.