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Qualquer coincidência é mera ancestralidade

O São Paulo Fashion Week N57 movimentou a cena nacional da Moda e o Fila A conversou com as duas marcas estreantes, Catarina Mina e Reptilia, além de cobrir com exclusividade a preparação do amazonense Maurício Duarte para sua terceira apresentação


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Foto: @agfotosite

“Eu espero muito e peço que todos estejam aqui, de verdade. Que estejam presente e que olhem para as pessoas com muito carinho. As pessoas estão esperando as modelos e as roupas, mas, aqui dentro, a gente precisa de uma sinergia e uma sintonia para fazer com que tudo seja leve”. Foi assim que Maurício Duarte começou o dia no backstage da edição N57 do São Paulo Fashion Week, onde apresentou sua mais nova coleção, intitulada Piracema.

De origem tupi, ‘pira’ significa peixe e ‘cema’ é subida. A palavra representa um fenômeno anual onde diversas espécies “sobem o rio” em busca de alimentação e reprodução com segurança. É a piracema que garante que o peixe complete seu ciclo de vida e dê continuidade à sua espécie. Movimentos que nortistas conhecem tão bem que até criaram leis para proibir a caça no período chamado “defeso”.

Ao traduzir esse movimento para roupas e acessórios – este último com a parceria de Carlos Penna –, a marca Maurício Duarte se utiliza de elementos típicos da Amazônia para apresentar um trabalho sólido e maduro, que chegou com muita expectativa para sua terceira apresentação em uma das maiores semanas de moda da América Latina. O crochê inspirado na malhadeira e escamas de pirarucu, por exemplo, são usados para associar peças às memórias do estilista.

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Foto: Luciano Nogueira

 

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Foto: Luciano Nogueira

 

Tudo isso são construções de Manaus, do Amazonas e de lugares que eu vivi. Então, trazer esse movimento das águas, do que é alimento para nós enquanto indígenas, ribeirinhos e nortistas, é muito importante. Todas as manualidades envolvidas, todo o bascktage com manauaras participando dos processos, uma marca de calçados [Rayz Shoes] e outra de bolsas [AIMI], ambas manauaras, como parceiros, são formas de mostrar a potência que o Norte é, e tirar esse olhar de que Moda não acontece em Manaus. Pelo contrário, acontece e está sendo exportado”, disse o estilista ao Fila A.

Com uma das salas mais lotadas desta edição, Maurício também mostrou representatividade na passarela. A artista Zahy Tentear abriu o desfile com um conto e um canto em língua indígena (ze’egete, da etnia Guajajara), o rapper manauara Kurt Sutil apresentou um conjunto fluido todo preto, a cantora paraense Zaynara estava de vestido em crochê com arremate de escamas de pirarucu, além de sua mãe e irmãs, que representam a etnia Kaixana, onde possuem origens.

“Para mim, é sempre uma emoção. Eu fico feliz e nervoso porque fazer parte da maior semana de moda da América Latina é um sonho muito grande. E falar de casa, trazer pessoas de casa, principalmente, é o que mais me motiva a acreditar que esse é um caminho possível”, finalizou Maurício.

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Foto: @agfotosite

 

CATARINA MINA

Sob o tema “Guardiãs da Memória”, Catarina Mina foi uma das estreantes da edição 57 do SPFW. Através de 40 looks feitos à mão, o desfile celebrou a beleza e a força do trabalho de uma rede de artesãs cearenses, composta por quase 450 mulheres de 31 comunidades.

Ao Fila A, Celina Hissa, fundadora da marca, contou sobre a correlação do tema com a coleção apresentada na passarela: “Neste caso, a palavra memória foi utilizada para pensarmos a cultura. Cultura é memória, e a memória se dirige contra o esquecimento. Sendo assim, as mulheres artesãs enquanto agentes da cultura do artesanato têm um papel fundamental, e ouso dizer que o mais importante – o de perpetuar esses saberes geração após geração para assim não serem esquecidos.”

Através de belas execuções de técnicas combinadas, como o filé (técnica de bordado característico da cidade de Jaguaribe) e o bilro (arte própria das mãos de rendeiras de Trairi), a marca apresenta uma alfaiataria clássica, com peças de linho e de seda puros, mesclada aos saberes das artesãs do Sertão ceareanse. “Fazemos tudo com muito cuidado, escuta e partilha. Um trabalho coletivo em que o manejo entre técnica e design se equilibram”, disse.

“[Com isso] Esperamos que todas as artesãs, não apenas as da nossa rede, e sim TODAS, sintam-se representadas e homenageadas. Como costumamos dizer por aqui: “Mais importante que o artesanato, só a artesã”, completou Celina Hissa.

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Foto: Gabriel Cappelletti; @agfotosite

REPTILIA

A força das texturas combinada com a leveza de tecidos ultra tecnológicos foi o que deu o tom à mais nova coleção da Reptilia, marca da curitibana Heloisa Strobel, que também estreou na edição N57 do São Paulo Fashion Week. Chamada de “Indelével”, é assim que a marca quer consolidar uma trajetória de sucesso que há 10 anos é pautada em um trabalho ético, desperdício zero e muito respeito à matéria prima brasileira.

“Eu acho que a Reptilia veio para ocupar esse espaço de uma moda de excelência, uma moda que tem seu traço autoral da arquitetura, uma moda que fala baixo mas que entrega muito. E o meu trabalho é sobre isso. Ele não é barulhento, mas é um trabalho de muita entrega e que vem conquistando clientes muito fiéis”, contou a fundadora da marca com exclusividade ao Fila A.

Único convite que levou Janja Lula da Silva, a Primeira Dama brasileira, a assistir ao desfile presencialmente no São Paulo Fashion Week, a Reptilia também teve o casting de modelos mais diverso desta edição, com representatividade trans, agênero, de diferentes tipos de corpos e idades.

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Foto: @agfotosite

 

“A Reptilia sempre trabalhou com um casting plural, e esse aspecto é muito importante para nós porque nos inspira e conversa com as necessidades dos tempos atuais. A moda cria imagens, cria expectativas nas pessoas. A gente precisa trabalhar com isso de forma consciente e responsável, então eu acho que é uma agenda nossa trabalhar com a pluralidade” contou Heloisa, que inicialmente queria um casting composto por mulheres acima dos 40 anos, mas que, no decorrer do processo de concepção da coleção, percebeu que também seria uma limitação: “A ideia de atender e mostrar todos esses estereótipos é algo que já vem sendo trabalhado na nossa história, e, agora, chegou a hora de consolidar essa imagem”.

Na passarela, Janja e convidados puderam ver uma coleção muito bem estruturada em sua concepção e com peças escultóricas, com design voltado para as rotinas urbanas e um olhar sobre diversas possibilidades de peças desmontáveis e multifuncionais. A atemporalidade e o minimalismo também foram conceitos explorados ao máximo pela estilista e seus parceiros, Carlos Penna e Márcio Krakhecke, que assinaram os acessórios e aviamentos em diferentes materiais, respectivamente.

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Foto: @agfotosite

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