Eles lagarteiam. São dias lentos, mornos e irritantemente calmos. Dias lineares, a não ser por uma notícia de alguém doente ou de algum amigo que faleceu. Aí é dureza. Começa, independente da hora, um entardecer silencioso e sorrateiro. Lágrimas brotam, sem comando. Não existe mais comando do corpo e da mente. Eles fazem insubordinadamente o que querem e bem entendem.
Comem sem vontade, almoçam e jantam quando dar na veneta, devoram uma panela de brigadeiro. Sem culpa. Não existe mais culpa. Ao corpo e a mente, tudo é permitido. Eles se governam.
À noite é ainda mais complicado. Os olhos, cada vez mais rebeldes e intolerantes. Lampejam igual as mariposas ao redor da luz. Às vezes, até ficam cegos de tantas lágrimas, mas não se abatem, enxergam, pois possuem vontade própria. Mancomunados, mandam um sinal para o cérebro: “porque dormir se não estamos cansados?”. Geralmente, até gosto, porque dormir, para mim, em tempos normais, nunca foi a minha prioridade. E cama, em tempos de pandemia, se torna um catre, duro, frio, pesado e sempre avisando: “reza para você acordar bem.” Estou no sexagésimo dia de confinamento social, enfrentando esse vírus invisível e mal-educado que não pede nem licença para entrar. Deus no Comando. Feliz Dia das Mães, na medida do possível.