
Backstage da Dendezeiro na SPFW N60 (Foto: Kevin Oux)
Nos últimos anos, a Kenner, marca carioca de calçados, tem se empenhado em ir além das sandálias clássicas que marcaram gerações. Nascida em 1988 e profundamente enraizada na cultura urbana, a marca se tornou icônica graças aos modelos robustos, duráveis e que se adaptaram muito bem às ruas que fervem Brasil afora.
Com presença em espaços inesperados, como semanas de moda e plataformas de moda autoral, agora, a Kenner sinaliza uma estratégia muito mais ambiciosa do que simples aparições pontuais em vitrines comerciais: é uma tentativa explícita de se consolidar como protagonista do lifestyle de um país contemporâneo.
No São Paulo Fashion Week (SPFW) N60, uma das principais passarelas da América Latina, junto à grife baiana Dendezeiro, a Kenner apresentou seus modelos Rakka e Raytek alinhados ao conceito de “Brasiliano 3: Lei da Vadiagem”, coleção que celebra narrativas regionais com forte identidade cultural. Essa parceria foi uma inserção estética e simbólica da marca dentro de uma narrativa de moda que se mostra global e local ao mesmo tempo.
“A Kenner está sempre em sintonia com a expressão da cultura e da identidade. Entendemos que a moda é um palco para revelar autenticidade e senso de pertencimento, valores que refletem tanto no nosso estilo quanto na forma autêntica de desenvolver produtos e fortalecer a nossa comunidade”, explicou Laura Leal, CMO da Kenner, na divulgação da parceria com a Dendezeiro.

Backstage da Dendezeiro na SPFW N60 (Foto: Kevin Oux)
Ainda mais marcante foi a atuação da Kenner na Casa de Criadores 57, evento que historicamente dá palco a novos talentos da moda nacional. A marca foi um dos patrocinadores oficiais do evento e, também, do projeto “Eu vim de lá”, um concurso que levou cinco marcas autorais à passarela.
Ao lado de Èssis, iLoostre, .pormenor, Ventana e Labo Young, a Kenner não apenas financiou a participação desses designers, mas os posicionou como parte de uma narrativa maior de identidade, ancestralidade e pertencimento.
Esses movimentos mostram que a Kenner parece estar buscando transformar sua relevância simbólica em capital cultural urbano, e isso vai além da visibilidade. A marca, que sempre foi associada à irreverência e à cultura de rua, celebradas, inclusive, em menções musicais e na estética periférica carioca, agora quer ser vista como parte integral do ecossistema de moda brasileiro ao lado de vozes que contam histórias únicas.

Backstage da Dendezeiro na SPFW N60 (Foto: Kevin Oux)
Por outro lado, há um desafio implícito nessa ambição que é diferenciar coautoria cultural e apropriação de narrativas. Vincular a Kenner ao trabalho de talentos periféricos é relevante, mas há que se perguntar se essa estratégia será sustentável. O suporte financeiro pontual e a presença em passarelas são importantes, mas precisam se traduzir em oportunidades reais para quem realmente faz acontecer.
A estratégia reflete um desejo audacioso de fincar as raízes da Kenner nas ruas do Brasil, articulando um legado com vozes contemporâneas que, muitas vezes, surgem fora dos circuitos tradicionais da moda. Essa aposta pode reposicionar a marca não apenas como um símbolo de estilo urbano, mas como um elemento que nasceu na rua, celebra suas origens e olha para o futuro mantendo a autenticidade. Vamos pagar para ver.


















