Dez mulheres reverenciadas como heroínas da história da França foram homenageadas com estátuas às margens do Rio Sena durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, realizada nesta sexta-feira (26).
A revelação das estátuas foi uma das aberturas do capítulo Sororidade da cerimônia de abertura, ao som de uma versão do hino nacional reproduzido por um coro de 34 mulheres na Pont Alexander III. As estátuas são um presente da cerimônia para a cidade de Paris; então, são permanentes.
Foram escolhidas mulheres que, em vida, deixaram grande contribuição social, política e cultural no país e no mundo; e que, sobretudo, usaram suas vozes para fazer avançar os direitos civis das mulheres. Também é uma forma de reparar a desigualdade de gênero das honrarias: dados oficiais apontam que a França conta com 270 estátuas para homens e apenas 40 para mulheres. Veja quem são as homenageadas e suas contribuições.
Olympe de Gouges (1748 – 1793)
Sob o pseudônimo de Marie Gouze, a dramaturga foi uma grande ativista feminista e abolicionista que atuou durante a Revolução Francesa. Entre seus escritos em defesa da democracia e dos direitos das mulheres está a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadania, em que defendia a liberdade de expressão e a participação feminina na sociedade e na esfera pública. Sua atuação era tão efervescente no período que ela foi condenada à guilhotina e morta na Praça da Concórdia, em Paris.
Simone de Beauvoir (1908 – 1986)
A escritora, filósofa, ativista e intelectual é considerada a mãe da segunda onda do movimento feminista. Em seus escritos, conceituou o gênero e esmiuçou a desigualdades sociais e a misoginia enfrentadas por mulheres em detrimento dos homens. Entre seus principais escritos está o livro O Segundo Sexo, considerado um dos grandes títulos da teoria feminista e que apresenta uma de suas frases mais famosas: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.
Paulette Nardal (1896 – 1985)
Nascida na Martinica, Nardal foi uma escritora, jornalista e intelectual, considerada pioneira do feminismo negro e do movimento literário de negritude na França e no mundo. Nardal foi a primeira mulher negra a conseguir estudar na Universidade de Sorbonne. Em 1931, ao lado da irmã, Jane Nardal, ela criou periódico La Revue du Monde Noir (A Revisão do Mundo Negro, em português), que reunia escritos do movimento anti-imperialista, negro e do movimento artístico Renascimento do Harlem.
Alice Milliat (1884 – 1957)
Pioneira na busca de espaço para mulheres no esporte, foi uma treinadora de futebol que, em 1922, organizou os primeiros Jogos das Mulheres, em Mônaco. A forte mobilização chegou a causar incômodo no Comitê Olímpico Internacional (COI), que se sentiu pressionado a começar a incluir mais eventos femininos nos Jogos Olímpicos. Ou seja, sua atuação acelerou ainda mais a inclusão de mulheres no esporte de maneira geral.
Christine de Pizan (1364 – 1431)
Foi uma poetisa e filósofa italiana, mas que viveu a maior parte da primeira metade do século 15 na França. Ela ficou conhecida por defender ativamente as mulheres e sua importância na participação da sociedade. Além disso, foi uma grande crítica da misoginia do meio literário da época, que era ainda mais masculino.
Louise Michel (1830 – 1905)
Foi enfermeira, escritora, poetisa e uma importante ativista libertária e anarquista. Atuou durante o período da Comuna de Paris (primeiro governo popular da história), em que fez parte da linha de frente das barricadas mas também das funções de apoio. Por este motivo, chegou a ser capturada e deportada para a Nova Caledônia. Sua atuação teve grande contribuição para a educação infantil, a organização do movimento de mulheres e a incorporação das trabalhadoras sexuais como trabalhadores de hospitais de campanha.
Gisèle Halimi (1927 – 2020)
Uma das grandes pioneiras do feminismo da França, a advogada, ativista e política se dedicou a defesa dos direitos das mulheres ao defender o aborto, a igualdade de gênero, a descriminalização da homossexualidade e a criminalização do crime de estupro. Também aumentou a voz para falar contra o colonialismo e a tortura.
Alice Guy (1837 – 1968)
A francesa foi a primeira mulher a dirigir e roteirizar um filme de ficção no cinema. Apresentou ao mundo sua visão de mundo feminista, por meio de títulos como Midwife to the Upper Classes, de 1902, e The Consequences of Feminism, de 1906. Também é considerada visionária no ramo pelo uso de cronofone de Gaumont para a sincronização de som, bem como pelo uso pioneiro de técnicas de efeitos especiais, colorização e pela inclusão de pessoas não brancas em seus elencos.
Simone Veil (1927 – 2017)
A política foi a primeira mulher a presidir do Parlamento Europeu e integrou o Conselho Constitucional da França. Mas sua atuação mais reconhecida é enquanto Ministra da Saúde. Foi neste cargo que, em 1974, ela defendeu um projeto de lei que descriminalizou o aborto voluntário na França. A legislação foi nomeada de Lei Veil e revolucionou os direitos reprodutivos no país, que em março de aborto incluiu o aborto em sua Constituição.
Jeanne Baret (1740 – 1807)
No século 18, a botânica precisou se disfarçar de homem (seu nome falso era Jean Baret) para poder integrar a expedição do escritor Louis Antoine de Bougainville pelo Oceano Pacífico, entre 1766 e 1769. Foi bem sucedida e, com isso, tornou-se a primeira mulher da história a dar a volta ao mundo. Por mais que suas descobertas botânicas tenham sido creditadas ao titular do posto, fez grandes descobertas também neste ramo: é ela a responsável por encontrar e catalogar a Bougainvillea brasiliensis, uma trepadeira que tem flores brilhantes e é nativa da América do Sul.