A cidade de Parintins, no Amazonas, é conhecida nacionalmente pela festa do boi-bumbá, a disputa entre Garantido e Caprichoso que desperta emoções de torcedores vermelhos e azulados. Entretanto, no panorama da saúde, carrega um dado não positivo: está em primeiro lugar entre os municípios do interior do Estado com mais casos de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
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O cenário foi o motor que levou a Associação de Gays, Lésbicas e Travestis de Parintins (AGLTPIN) a criar um projeto que pudesse trabalhar a importância da prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (IST), no município. Assim nasceu o ‘Ilha Encantada, Garantindo e Caprichando: Dialogando com Estratégias de Prevenção Combinada’.
A proposta, elaborada em 2021, foi inscrita e aprovada para ser beneficiária do Fundo Positivo, iniciativa que reúne doações de grandes empresas e instituições interessadas em fomentar ações de prevenção às IST no país.
“Por meio do projeto, conseguimos realizar uma reunião com os gestores de saúde do município na esfera estadual e municipal, além de oficinas de prevenção combinada com a população LGBTQIA+ e com gestores da atenção básica. Temos conseguido aprender muito mais sobre a prevenção às IST e também sobre como fazer uma abordagem melhor da população-alvo”, comenta o secretário-geral da AGLTPIN, Adinamar Miranda.
Segundo ele, ainda há muito desconhecimento a respeito das infecções e da existência de meios de prevenção. A afirmação vai ao encontro do que revelou uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), com 479 pessoas de 22 estados brasileiros, divulgada em 2020. A maior parte dos entrevistados (80%) afirmou saber sobre as IST, mas se considerou fora de risco. Os que tinham consciência sobre os perigos da exposição eram apenas 11%.
Incentivo
O Fundo Positivo foi criado em 2014 e já beneficiou mais de 130 projetos em todas as regiões do país. Coordenador-geral do projeto, Harley Henriques explica que a destinação de recursos acontece por meio de editais. “As organizações apresentam os projetos, se forma um comitê externo de especialistas para selecionar as propostas e, a partir daí, formalizamos, destinamos o recurso e acompanhamos o trabalho das instituições”.
Dentre os doadores do projeto, está o Instituto Sabin, braço filantrópico do Grupo Sabin –um dos maiores players de medicina diagnóstica do país. Segundo o gerente-executivo Gabriel Cardoso, o fomento ao Fundo Positivo está ligado diretamente a um dos quatro eixos estratégicos que guiam a organização.
“Promover a saúde integral de pessoas em situação de vulnerabilidade é um dos nossos grandes objetivos. Dessa forma, ao investirmos socialmente no Fundo Positivo, apoiamos indiretamente projetos e instituições que trabalhem com causas como HIV/AIDS, infecções sexualmente transmissíveis e hepatites virais no Brasil”, comenta.
Avanços
Além de palestras com a população LGBTQIA+ e profissionais de saúde, o projeto ‘Ilha Encantada’ conseguiu articular a disponibilização da Profilaxia Pré-Exposição (PreP), método medicamentoso de prevenção ao HIV, que tem como público-alvo pessoas com maior chance de exposição ao vírus, como homens que fazem sexo com homens e trabalhadores do sexo. Segundo Adinamar, neste mês, a AGLTPIN irá realizar novas oficinas de sensibilização com o objetivo de conscientizar profissionais de saúde e pessoas LGBTQIA+ sobre os conceitos de gênero e sexualidade, e cuidados para pessoas vivendo com HIV ou Hepatites Virais. “Além dessas palestras, vamos continuar com ações de testagem para HIV, o nosso carro-chefe da associação”, diz o secretário-geral.
