Colunas densas de fumaça voltaram a cobrir o céu do município de Apuí, no sul do Amazonas, nesta última semana de julho. Imagens enviadas à fiscalização e vídeos compartilhados nas redes sociais revelam o início precoce da temporada de queimadas ilegais em 2025 — alimentadas, principalmente, por ações criminosas de grilagem de terras e desmatamento. A situação, além de provocar danos ambientais severos, representa um grave risco à saúde pública em todo o estado, inclusive na capital, Manaus.

Foto: Alex Pazuello
Focos de incêndio
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre os dias 1º e 28 de julho foram registrados 239 focos ativos de calor no Amazonas, sendo 39 somente no município de Apuí, que mais uma vez aparece como epicentro das queimadas ilegais. Outros municípios como Canutama, Maués, Lábrea e Humaitá também apresentaram crescimento expressivo no número de focos.
As imagens de satélite e os relatos de moradores reforçam o alerta: grandes extensões de floresta estão sendo destruídas por incêndios provocados de forma intencional. A fumaça, densa e tóxica, já se desloca em direção a outras regiões, inclusive Manaus, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas.
“É um ataque à vida”, diz superintendente do Ibama
Em nota oficial divulgada em 29 de julho, o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, classificou o cenário como alarmante e reforçou que, apesar das autuações, multas e embargos aplicados nos últimos meses, os crimes ambientais seguem ocorrendo de forma organizada e desafiadora.

Foto: Ascom/Reprodução
“Mesmo após ações intensivas do IBAMA na região, os infratores seguem desafiando o Estado e a sociedade. […] Esses crimes têm consequências diretas sobre a saúde da população. A fumaça tóxica pode atingir grandes cidades do Amazonas, incluindo a capital, Manaus. Crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias são os mais vulneráveis”, afirmou o superintendente.
Joel Araújo também criticou a recente aprovação do Projeto de Lei 2159/2021 — apelidado de “PL da Devastação” —, que flexibiliza o licenciamento ambiental em todo o país. Segundo ele, o que está em curso “não é apenas um crime contra a natureza. É um ataque à vida.”
Histórico de fumaça e impactos severos na saúde
Episódios como esse não são inéditos no Amazonas. Em setembro de 2023, Manaus amanheceu por vários dias coberta por uma espessa névoa de fumaça vinda de queimadas em Autazes, Careiro da Várzea e Presidente Figueiredo. Naquele período, o índice de material particulado fino (PM2,5) ultrapassou os limites recomendados pela OMS e provocou aumento de até 35% nas internações por doenças respiratórias, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).
Em 2019, durante o ápice da crise ambiental no governo federal, a cidade também registrou dias de céu acinzentado e baixa visibilidade, afetando voos, transporte e principalmente a saúde de grupos mais vulneráveis.
Fogo, solo e lucro: o ciclo da grilagem
O sul do Amazonas é uma das regiões mais pressionadas pela expansão ilegal da fronteira agrícola. A lógica é perversa: primeiro, o desmatamento e as queimadas abrem espaço para o gado e, posteriormente, para o cultivo. Essas ações estão diretamente ligadas à grilagem de terras públicas, feita por meio de documentos falsos e ocupações não autorizadas.
Mesmo com fiscalização ambiental intensificada nos últimos anos, a região segue sendo alvo de ações criminosas e organizadas, com uso de tratores, motosserras e, muitas vezes, proteção de milícias armadas.
Um apelo por ação imediata
Diante da gravidade da situação, o Ibama-AM faz um apelo por respostas mais firmes e integradas por parte dos poderes públicos. A nota oficial aponta a necessidade de atuação do Ministério Público, do Judiciário, dos Governos Estadual e Federal e do Congresso Nacional.
“Não podemos agir sozinhos. É preciso reação urgente do Estado brasileiro”, finaliza Joel Araújo.
Além da repressão aos crimes ambientais, especialistas defendem a adoção de estratégias preventivas, como o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), o fortalecimento de órgãos ambientais estaduais e a valorização de comunidades tradicionais como guardiãs da floresta.


















