Quando eu escrevi a última coluna do ano passado, eu realmente estava cheia de esperanças. As boas notícias sobre a vacina do Butatan trouxeram um novo ar, um respiro meio que de alívio em relação a pandemia. Mas o sentimento de impotência logo tomou conta da gente, nesses primeiros dias do ano, depois da semana infernal que meus irmãos e irmãs manauaras vivemos. Não tem clima para falar de outro assunto.
Estando a quilômetros da cidade onde nasci e cresci, onde reside grande parte da minha família e amigos, eu me senti de mãos atadas, completamente inútil e tomada por um sentimento de desespero por não pode fazer algo mais prático para ajudar quem está sofrendo, sem poder respirar.
A revolta cresce ainda mais com as notícias sobre gente rica furando a fila da vacina, enquanto meus pais, que são idosos, estão trancafiados em casa desde abril do ano passado. Sentimentos que não gosto de nutrir dentro de mim são escancarados quando vejo gente fazendo aglomerações, quando agem com descaso a quem está no grupo de risco, que minimizam o que está acontecendo na minha terra.
A sociedade civil ter que se unir para comprar cilindros de oxigênio simplesmente porque o governo não fez o seu papel é o cúmulo do absurdo. E tudo isso que o Amazonas está vivendo é uma verdadeira tragédia anunciada.
Se você não está com raiva, você não está prestando atenção.