A atriz e apresentadora Juh Campos, de 30 anos de idade, eleita Miss Amazonas 2021, falou em entrevista sobre sua luta e consciência com relação ao racismo, especialmente após se mudar para o Rio de Janeiro, onde mora.
Embora tenha crescido em meio a muitas dificuldades no município de Presidente Figueiredo, no estado do Amazonas, ela não deixou a peteca cair e se considera mais empoderada após os obstáculos por conta de sua raça.
“Existe uma Juh do passado, que acreditou muito e teve que passar por muitas coisas para construir a Juh de hoje. E que continua trabalhando arduamente, para transformar minhas vivências em instrumento de empoderamento da mulher preta. Porque, eu até já conhecia o racismo e o preconceito, mas só tive conhecimento do quanto é importante e necessário levantar mais debates sobre isso quando cheguei no Rio de Janeiro e senti isso de forma bem mais forte e cruel”, contou.
Atual musa Rio de Prêmios, Miss Amazonas e Vice Miss Bumbum Brasil, Juh Campos conta que hoje entende que muitas das dificuldades que passou na vida tiveram relação com a sua cor, mas só entendeu de verdade isso, após ter sido impedida de entrar em um hotel da zona sul do Rio de Janeiro, por ser preta e aparentemente pobre, devido às roupas simples que usava na ocasião.
O caso, que chegou a ganhar certa repercussão, de acordo com a artista, a inspirou a estudar e querer entender mais sobre sua bandeira, não apenas para impedir que aconteça com ela novamente, mas também para se tornar porta-voz de outras mulheres pretas.
“Eu entendi naquele momento o quanto é preciso avançarmos em representatividade em diversos espaços. Eu cheguei a ver numa pesquisa recente, que temos cerca de 25% de mulheres ocupando cargos de liderança, mas me deixou triste saber que destas, apenas 3% são mulheres pretas. Isso evidencia para a gente, como mostrava a pesquisa, que existe um abismo gigante de direitos que ainda temos que enfrentar. E é uma coisa que já não dá para deixar para depois. Precisamos agir hoje, para que as novas gerações de mulheres pretas do país, tenham seus direitos garantidos e sejam reconhecidas por sua competência, e não apenas por sua beleza e/ou corpo curvilíneo”, explicou Juh citando o estudo feito pela consultoria Gestão Kairós.
“À medida que fui estudando mais sobre nossa bandeira, fui entendendo também a necessidade real de refletirmos mais sobre o papel de cada uma nesse movimento. Não dava mais para ficar omissa como eu estava. Hoje quero evidenciar os avanços da representatividade da mulher preta, principalmente na arte e na cultura, que é a minha área. Mas não apenas. Porque não é de hoje que já somos verdadeiros exemplos de força e resistência”, acrescentou.