Belém (PA) – O Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, enviou no último dia 12 de novembro uma carta de repreensão sem precedentes, quebrando o protocolo diplomático, ao governo brasileiro — incluindo o Ministro da Casa Civil, o Governador do Pará e o Presidente da COP30 — exigindo a implementação de medidas apropriadas de segurança na Zona Azul da 30ª Conferência das Partes (COP30), em Belém do Pará. O ultimato ocorreu após a violação do perímetro de negociações por manifestantes na noite anterior, e devido ao colapso crônico de infraestrutura básica, como a falta de climatização e a crise hidráulica.

Créditos: Reuters/ AMR ALFIKY
O documento assinado por Stiell marcou o ponto de ebulição da frustração da comunidade internacional com a capacidade operacional do estado anfitrião. A carta formalizou o descontentamento que até então circulava apenas nos corredores diplomáticos. Ao incluir o Ministro Rui Costa, o Governador Helder Barbalho e o Embaixador André Corrêa do Lago como destinatários, a ONU apontou o dedo para a gestão central e estadual do evento. A estipulação de um prazo tão curto — “até o final do dia” — foi um ato extremamente raro, indicando que a confiança na gestão de crise brasileira havia se erodido a um ponto crítico.
O principal incidente que precipitou a carta foi a invasão da Zona Azul por um grupo organizado, composto majoritariamente por lideranças indígenas e ativistas climáticos, na noite do último dia 11. A invasão expôs a fragilidade dos protocolos acordados no Acordo de Sede (Host Country Agreement), e foi interpretada pela ONU como uma quebra do conceito de extraterritorialidade que rege a área de negociações. A ONU exigiu uma reestruturação física e tática do perímetro, colocando a responsabilidade de impedir novas invasões inequivocamente sobre as forças de segurança do Brasil.
Além da segurança, o Secretário Executivo dedicou parágrafos contundentes para descrever as condições de trabalho inaceitáveis na Zona Azul. Ele citou a “falta de ar-condicionado” e a necessidade urgente de climatização dos espaços, alertando que a falha na refrigeração transformava as tendas temporárias em estufas, em um clima equatorial com sensação térmica frequentemente acima de 35°C. O documento também relatou a crise hidráulica, com “vazamentos de água” e falta de água nos banheiros. Goteiras chegaram a ser registradas sobre equipamentos eletrônicos caríssimos no Centro de Mídia.
A resposta do governo brasileiro incluiu a instalação de novas unidades de ar-condicionado portáteis (“sprint”) para tentar resolver o calor insuportável e reparos de emergência nas calhas. O perímetro de segurança foi expandido e fortificado com novas barreiras de contenção e gradis metálicos, além de garantir a atuação ostensiva da Força Nacional e da Polícia Federal.
Alerta se materializa em chamas
Oito dias após a carta de Stiell alertar sobre os riscos estruturais da infraestrutura, as preocupações se materializaram em um incêndio de grandes proporções. Na tarde da última quinta-feira (20), feriado de Consciência Negra, participantes da COP30 tiveram que ser totalmente evacuados após o fogo atingir o Pavilhão dos Países, na Zona Azul.
O incêndio, cuja causa provável inicial apontava falha em geradores ou curto-circuito, é visto como possivelmente ligado à sobrecarga dos sistemas elétricos, exigidos ao máximo para compensar a falha de climatização criticada na carta de 12 de novembro. O foco do fogo foi identificado próximo ao Pavilhão do Brasil, atingindo estandes e lonas, e forçando o corte de energia.
A evacuação foi total, com “muita correria”, mobilizando o Corpo de Bombeiros, que chegou ao local por volta das 14h15. Embora informações preliminares não apontem feridos graves, a ONU reagiu ao desastre de forma drástica, declarando que a área afetada “não é mais considerada uma Zona Azul”. Em um voto de desconfiança humilhante, a organização retirou sua jurisdição sobre o complexo, devolvendo o controle integralmente ao Estado brasileiro. O incêndio, portanto, serviu como a validação final das críticas de infraestrutura e segurança apontadas na carta de Simon Stiell.


















