Manaus (AM) – A BR-319, estrada federal que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), voltou a ocupar protagonismo no debate público após uma série de acontecimentos que recolocam sua pavimentação entre as prioridades do país. De um lado, há avanços concretos na articulação política, com a aprovação da nova Lei Geral de Licenciamento Ambiental e o anúncio do Plano BR-319 Sustentável. De outro, seguem vigentes os entraves jurídicos e ambientais que impedem, por ora, o início das obras no trecho mais crítico da rodovia.

Trecho sem asfaldo da BR 319, entre Humaitá e Realidade (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real Unpaved stretch of BR 319, between Humaitá and Porto Realidade (Photo: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Considerada estratégica para a integração logística da Amazônia com o restante do país, a BR-319 é apontada como fundamental para o desenvolvimento regional e para o fortalecimento da fiscalização ambiental. A pressão política em torno da rodovia aumentou, mas parte da bancada do Amazonas vê com desconfiança a lentidão do processo.
Um dos críticos mais incisivos é o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que voltou a se manifestar nas redes sociais após o anúncio do novo acordo entre os ministérios do Meio Ambiente e dos Transportes para a criação de um plano sustentável. Para ele, a medida representa mais uma tentativa de adiar o início das obras.
“A BR-319 não precisa de mais estudos, precisa de asfalto. Precisa sair do discurso e virar realidade. Isso é brincar com o povo do Amazonas. Você não me elegeu pra ficar calado, muito menos pra aceitar promessas de gabinete”, declarou o senador, acusando o governo de transformar o projeto em “balela, mentira e enganação com prazo contado até a próxima eleição”.

Plínio Valério (Foto: Gerdan Wesley)
Já no campo institucional e ambiental, a principal novidade vem do anúncio do Plano BR-319 Sustentável, fruto de um acordo entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério dos Transportes. A proposta é coordenada pelo MMA e visa estabelecer uma nova governança ambiental na região do entorno da estrada, com foco na legalidade, na ciência e na escuta das comunidades locais. Entre as medidas previstas estão a criação de uma comissão interministerial, a contratação de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) e a ampliação de unidades de conservação e de fiscalização — como parques, reservas extrativistas e terras indígenas. A proposta também prevê investimentos em atividades sustentáveis já realizadas nas comunidades, como o manejo do pirarucu, a pesca esportiva, o turismo de selva e projetos de manejo de quelônios.
O superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, destacou ainda a importância da restauração florestal de áreas degradadas como estratégia de compensação ambiental e geração de renda para a população. Segundo ele, o papel do Ibama será decisivo para garantir que a pavimentação só ocorra com controle rigoroso e em total conformidade com a legislação ambiental.
“Não se trata de bloquear o progresso, mas de impedir que ele destrua o que não pode ser substituído: a floresta, os povos, a biodiversidade”, afirmou.

Joel Araújo (Foto: Reprodução/ Instagram – @joelaraujoam)
Apesar do ambiente político favorável e do avanço institucional, as obras seguem suspensas por decisão da Justiça Federal. Em 2022, o Ibama concedeu licença prévia para o trecho do meio da BR-319, mas a autorização foi derrubada por uma liminar após apontamentos de inconsistências técnicas e riscos de aumento do desmatamento. Levantamentos recentes apontam que a liberação inicial da obra coincidiu com um salto de mais de 120% nos alertas de desmatamento no entorno da rodovia, acendendo o alerta de organizações ambientais e do Ministério Público.
Com a nova lei prestes a ser sancionada, o plano sustentável em estruturação e a cobrança contínua de parlamentares, a BR-319 está novamente em pauta nacional. Resta saber se esses esforços serão suficientes para garantir a retomada das obras com os devidos critérios técnicos, respeito ambiental e responsabilidade social. Enquanto isso, o futuro da rodovia segue como símbolo do grande desafio brasileiro de equilibrar infraestrutura com proteção à Amazônia.


















