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‘Arquiteotonicas’: Otoni Mesquita inaugura nova exposição no Palácio da Justiça


Cidades imaginárias que se complementam quase que infinitamente, gravuras de seus habitantes fantasiosos, objetos decorados com símbolos de culturas inventadas, uma torre de babel que reúne a vida e arte do artista plástico Otoni Mesquita. Após quase 40 anos de sua primeira exposição individual e também marcando os seus 45 anos de trajetória artística, Otoni apresenta a exposição “Arquiteotonicas”, com abertura nesta quinta-feira (23/01), às 19h, no Centro Cultural Palácio da Justiça (avenida Eduardo Ribeiro, 901, Centro). A entrada é gratuita.

As cidades “otonianas” que o visitante poderá vislumbrar nas salas Juiz Manoel Corrêa de Miranda e Desembargador Benjamin Rubim, do Palácio da Justiça, fazem parte de uma série de criações que datam dos anos 1970 e 1980. Apelidadas por uma amiga do artista de “Arquiteotonicas”, as “construções” surgiram em momentos aleatórios da vida de Otoni, em reuniões, assembleias, durante a época de mestrado, e também em viagens para diferentes cidades da América Latina e da Europa.

“Sempre me interessei por castelos na infância e os desenhava bastante, e também sempre tive essa relação com as cidades, mas foi a partir dos anos 1980 que comecei a desenhar com mais frequência. Cinema, viagens e minha atuação como professor da arte me influenciaram bastante”, afirma.

As pinturas, que foram dispostas em tecidos em uma instalação artística, foram criadas a partir da junção de fragmentos de momentos diferentes da trajetória do artista. Um desenho de uma cidade de 1987 se une a um de 2013, inspirado em uma viagem a Istambul, e assim as cidades vão se complementando, misturando influências e culturas diversas.

“Em minhas viagens, eu anotava muito, e essas anotações que acompanham essas cidades estão impressos nos tecidos onde estão dispostas as cidades. Os cadernos de anotações que levei nestas viagens também estarão na exposição”, explica.

Um exemplo é o caderno que Otoni levou para Cartagena, onde está anotado um alfabeto inventado pelo artista. “Estes textos diversos também são uma forma de resgatar minha formação e trajetória, porque por meio deles consigo recuperar memórias e lembrar o que fazia quando criei ou desenhei alguma cidade, ou trabalho”, complementa.

‘Torre de babel’ e habitantes ‘otonianos’ – ‘Arquiteotonicas’ também terá uma “Torre de Babel”. A princípio, o artista conta, a torre seria revestida pelas mesmas cidades imaginárias em formato de lambe-lambe, porém, à medida em que foi construindo a obra, outra ideia tomou conta do processo artístico.

“O trabalho vai se processando, e acabei mudando de ideia. Pensei depois em colocar jornais de diversas línguas, mas aí lembrei que tinha reproduções de línguas mortas em casa que poderiam fazer parte da torre. Fui para casa com esse intuito e acabei revirando minha casa por umas cinco horas. Achei muita coisa minha e acabei por decidir revestir a torre com o meu próprio trabalho e com outros elementos que fizeram parte da minha vida, uma obra que é uma autorreferência”.

São hieróglifos, imagens de uma cidade em que ficou na França, listas de exercícios, grafismos, alfabetos, desenhos, esboços, uma torre de babel que reflete o próprio universo otoniano. Além disso, o público poderá ver calcogravuras dos habitantes e também caixas decoradas como “oferendas” das cidades imaginárias.

“Descobri a calcogravura em uma visita a um amigo cubano, em Vitória, e me encantei, cheguei a apresentar alguns trabalhos em Belém. Estes habitantes lembram algo medieval ou oriental, meu trabalho não lembra muito o amazônico às vezes, tem um aspecto neorromântico. Os pintores românticos do século 18 e 19 eram escapistas, fugiam do seu tempo, com temáticas antigas em outras geografias. Confesso que o mundo e o Brasil atualmente são algo que me desagrada, então essa proposta mais fantasiosa, de outra coisa mais suave, é mais agradável para mim. Pode parecer alienante, mas é uma forma de sobrevivência, uma forma romântica de escapar do aqui e agora”, confessa.

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