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A JANELA PRINCIPAL


Tem uma janela no meu apartamento que nunca me fez nada. Fica lá, no puxadinho que chamam de área de serviço. Não contempla, espremida entre o tanque, um armário alto e outro, onde habita a gaveta dos remédios e vitaminas da casa. Essa parte sim, visitosempre, pela manhã e à noite. A gaveta da salvação. A janela? Coadjuvante.

(Foto: Reprodução/Internet)

Mas, do nada, em tempos de isolamento social volun- tário, ao chegar na gaveta que move meu mundo (sou mega hipocondríaca), a janela me olhou. Olhei através do vão, e pasme você, leitor de domingo, meu olhar ultrapassou e deu de cara com a janela do puxadinho da vizinha. E quem estava lá? A vizinha. Já com os remédios e vitaminas a reboque, voltei, de costas.

Abri a janela que, nada significava, e soltei um sonoro: “oi, vizinha, tudo bem?” Ela tomou um susto e pensou, certamente que eu nunca, em quatro anos, havia feito tanto afago. A minha interlocutora respondeu “oi, só esse isolamento social, cansada”. Repliquei: “eu também”. E veio a tréplica: “Mas, vizinha, eu sou hipertensa”. Toda animada, como se fosse a melhor coisa do mundo, respondi: “eu também, amiga!” E, com cara de espanto, ela falou: “nem imaginava. Então, vamos nos cuidar”. Deu um tchauzinho e saiu de cena. Fiquei ali, parada, com um sorriso no ros- to. Conversei com um humano, depois de cinco dias de isolamento, cara a cara. Atesto que a janela é fundamental naquele lugar. Agora, virou principal.

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